Premiado internacionalmente, Guido Totoli representou o Brasil com
paisagens no Centro de Arte de Paris.
“
Sim, é mesmo com muito prazer que o italiano Guido Totoli se entrega
no dia-a-dia ao ofício da criação. Há 42 anos no Brasil, seu nome é
tão marcante quanto a cerâmica vibrante que assina e que, certamente,
habita centenas de varandas e casas de praia e de fazenda pelo país
afora. São pinhas, pratos, jarras, fruteiras, pássaros, leões, Baços,
Netunos , tudo generosamente colorido à la Guido Totoli . Mas
não é só a inventividade na cerâmica que povoa o imaginário desse
artista. Para quem não sabe, há uma obra sua (Paisagem Campestre, óleo
sobre tela) integrando o acervo do Masp, Museu de arte de São Paulo.”
“
Nasci para criar. Aos 4 anos eu já fazia cerâmica e fui aprendendo a
pintar com pintores da Igreja, fazendo afrescos”, conta ele,
relembrando que chegou por aqui muito jovem. “ Tinha pouco mais de 20
anos e naquela época o trabalho em cerâmica era pouco valorizado no
Brasil. Então comecei a pintar, fazia naturezas mortas, mas não com o
intuito de vender. Ia dando de presente a amigos, tanto que muita
coisa está com colecionadores. E enquanto isso o destino ia
ajudando...Sem querer passei a fazer parte de um grande grupo de
artistas da época , eles todos com 50, 60 anos, em plena maturidade, e
eu muito jovem. Nada menos que Volpi , Portinari, Rebolo, Pennachi,
Zannini...” registra Guido. Foi também o destino que deu outro
empurrãozinho: “Um belo dia fui a um leilão de arte e lá estava uma
obra minha, uma daquelas que eu havia dado de presente. Resolvi então
passar a pintar profissionalmente.
Mas e
a cerâmica? “Foi só nos anos 70 que passei a fezer as primeiras peças,
os jarros, os pratos com figuras, logo vieram os chafarizes, fontes
com deuses da mitologia, os Baços, os Eolos, as Dianas Caçadoras”, diz
ele passeando pelo jardim do atelier, povoado por peças emblemáticas
de sua história de cerâmica.
Hoje,
Guido confessa que sua rotina está irremediavelmente ligada à arte.
“Não faço outra coisa, tudo que vejo é em forma de arte. Quando vou
dormir, penso na criação do dia seguinte, em aprimorar aquele trabalho
iniciado. Chego a ser compulsivo, quantas vezes venho à meia-noite ao
ateliê... A mente é muito mais rápida que a mão, por isso essa
insatisfação constatnte, mas valiosa, porque o artista satisfeito com
sua obra, esse na verdade está morto”, acredita o incansável criador
de vasos, pinhas, pássaros e fruteiras exuberantes....
Confissão do artista: “Com o tempo perdi o medo de usar as cores
puras”
Revista Kasa Decoração e Design - 2003
“ Dia após
dia, no ônibus a caminho da escola, o bambino passava em frente às ruínas
gregas de Paestum, no sul da Itália. O que para a maioria dos garotos não
passava de imagens do cotidiano, marcaria a trajetória do artista plástico
Guido Totoli. Basta reparar nas ânforas e cavalos etruscos de sua obra para
perceber que ele bebeu da mesma fonte dos renascentistas: as descobertas
arqueológicas daqueles que antecederam os romanos, na Etruria e das
escavações arqueológicas das civilazações clássicas. O talento para as artes
foi descoberto ainda menino, pelo professor de desenho da Abadia de Cavo,
região de olarias. Incentivado pelo mestre, levou argila para casa e
construiu seus primeiros presépios. Como qualquer jovem da Itália do
pós-guerra, ele sonhava com a América. Assim, desembarcou no Porto de
Santos e começou a trabalhar na Paulicéia emergente. Hoje, se recolhe no seu
atelier de cerâmica, onde constrói uma vasta obra com sua inconfundível
marca renascentista.”
Edição
especial Casa Claudia – Artesãos do Brasil - por Pedro Ariel Santana
“ O mundo
pictórico de Guido Totoli reflete com fidelidade aquele de seus sentimentos
e idéias de homem e de artista. Numa tentativa de definição crítica, dizer
que esse artista é um realista seria servir-se de uma forma simplista e
quase grosseira. Uma coisa é certa: ele não se afasta da realidade, nem a
deforma de propósito, menos ainda a dissolve no abstrato e no informal, como
também dela não se torna escravo.
Contemplando
amorosamente a sua realidade, Totoli a condensa em termos, lineamentos e
volumes essenciais, revelando assim sua alma poética ou, se preferirmos, o
significados cósmico da arte.
No
desenrolar desse processo tiveram importância decisiva os contatos do pintor
com a natureza brasileira forte e vigorosa e sobretudo o habitat do homem do
interior paulista.
Totoli
alcança em suas obras felizes momentos de sínteses figurativas e expressivas
que denotam metas futuras sempre mais árduas e luminosas. Suas cores,
algumas usadas com vigor, mesmo luminosas, vibram com uma larga, densa e
calorosa pureza. Em sua pintura não existe fratura entre cor e forma , entre
subconsciente e realidade visual, pois o seu realismo existencial é
perfeitamente orgânico.
Entretanto,
um certo temperamento romântico e angustiante transparece nas paisagens que
pinta com uma carga de humanismo, de modo a provocar, em quem as observa, um
contínuo e agradável sentimento.
Em suas
obras “Paisagem Urbana I e II” que fazem parte do Acervo Artístico do
Parlamento Paulista, Guido Totoli evidencia ser possuidor de uma rara
medidad de equilíbrio entre pensamento e gesto, demonstrando com grande
habilidade a força da realidade do ambiente urbano.”
Diário Oficial do Estado
de São Paulo – por Emanuel Von Lauenstein Massaran |